segunda-feira, 28 de julho de 2014

Saúde começa pela boca


O tipo de nutrição praticada tem influência direta na saúde bucal e integral, e uma alimentação adequada, com o consumo balanceado dos nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo, é fundamental para um futuro saudável.

No início da vida, a primeira relação do bebê com o mundo é expressa pela boca, através do choro, pelo qual ele manifesta não só em reação ao choque da mudança brusca de ambiente, mas também suas primeiras necessidades, como a de comer. Pela mesma boca ocorre a sucção do leite materno, seu primeiro alimento, que garante nutrição e supre as necessidades para o desenvolvimento e o crescimento do bebê nos seis primeiros meses de vida. A partir daí, a nutrição ganha complexidade, com a introdução de sucos e papas até o fim do primeiro ano e, em seguida, de comidas caseiras, com todos os grupos de dentes cumprindo suas funções: os anteriores cortando, os caninos dilacerando e os molares moendo. Mas a relação entre os alimentos e os dentes vai além da função da mastigação.

Uma alimentação balanceada contribui para melhor saúde bucal e integral, fazendo com que o aconselhamento nutricional seja uma necessidade desde a gestação - é o que defende a odon­topediatra Márcia Vasconcelos, professora do Departamento de Clínica e Odontologia Preventiva da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). "Desde a gestação os pais devem receber orientações com relação aos diversos fatores de risco à saúde bucal, tendo-a como parte integrante da saúde geral. Orientar a mãe sobre a importância do aleitamento é fundamental, explicando que a fase de transição deve passar do peito para o copo, evitando-se a mamadeira, que muitas vezes ocasiona má-oclusão, orientando sobre o perigo do consumo freqüente do açúcar e ressaltando a importância de uma dieta balanceada. Estas são obrigações do profissional que trabalha com uma visão humanística e com sensibilidade social."

Para que as orientações necessárias sejam dadas de forma responsável, Márcia chama a atenção para a importância de se ter clara a diferença entre dieta, que é a ingestão costumeira de alimentos e bebidas realizada diariamente, com efeito local direto no dente, e nutrição, definida pela assimilação dos alimentos e por seu efeito sobre o metabolismo do organismo. "O descuido com a relação existente entre alimentação e saúde bucal pode ser responsável por prejuízos à saúde bucal, como o surgimento da cárie, e integral, ocasionando doenças crônicas, como câncer, hipertensão e diabetes", alerta.

Para não morrer pela boca

O odontopediatra Luiz Wal­ter, presidente da Associação Brasileira de Odontopediatria, configura como alimentação ruim aquela que não é adequada às condições físicas e desenvol­vimentistas da criança. "A alimentação ideal é a que nutre e supre todas as necessidades, físicas e emocionais. Assim, a criança que mama no peito até os seis meses e que desmama até os 12 tem uma alimentação adequada a esta idade; no entanto, uma criança com mais de dois anos e meio que mama no peito tem uma alimentação inadequada."

Os reflexos de uma alimentação inadequada quase sempre se apresentam na forma de um possível desenvolvimento de cárie precoce na infância. Para evitar o problema, Luiz Walter recomenda que a alimentação nos primeiros anos contenha, de forma balanceada, alimentos calóricos - gorduras, proteínas e carboidratos - e nutrientes essenciais, como minerais, aminoácidos específicos e ácidos graxos não saturados.

Os alimentos são divididos em três grupos: energéticos, construtores e reguladores. Segundo a Nutrologia, alimentação equilibrada ou balanceada é aquela que oferece, numa mesma refeição, pelo menos um alimento de cada um dos três grupos, interação essencial para a obtenção do equilíbrio de nutrientes indispensáveis para satisfazer as necessidades fisiológicas e psicológicas de um indivíduo.

Alimentos construtores auxiliam no crescimento e no restabelecimento dos tecidos. Os mais comuns são as carnes (boi, frango, porco e peixe, entre outros), leite e seus derivados (iogurte, queijo, requeijão), ovos, feijão, ervilha, soja, etc. Já os alimentos reguladores, que regulam o funcionamento do corpo, previnem doenças como gripes e resfriados e ajudam na digestão. Os nutrientes reguladores são as vitaminas (A, B, C, D, E, K etc.) e os minerais (ferro, cálcio, sódio, potássio, zinco etc.), e compõem este grupo alimentos como as frutas, os legumes e as verduras. Os dois grupos fornecem energia ao organismo, mas os que o fazem com maior intensidade são os energéticos: óleo, manteiga, margarina, açúcar, mel, pão, cereal matinal, biscoito, bolo, doces, sorvete, arroz, macarrão, milho, batata, mandioca, mandioquinha e farinhas, entre outros.

Uso inteligente do açúcar

Diminuir a incidência de cárie, modificar a dieta, controlar a placa e aumentar a resistência do dente com o uso do flúor - estes são os desafios que, segundo a odon­topediatra Márcia Vasconcelos, opõem-se ao ideal de adoção de uma alimentação saudável e de bons hábitos para toda a infância. "É importante que os pais adquiram uma conduta preventiva, cuidando de seus dentes e dando bons exemplos na formação de hábitos dietéticos e de higiene, contribuindo para a manutenção da saúde bucal da sua família", aconselha.

Do ponto de vista das políticas públicas, Márcia considera "de extrema necessidade a adoção de estratégias para uma política de redução do consumo de açúcar na população, além de estra­tégias de educação, como avaliação da dieta, para sugerir cardápios balanceados nas principais refeições, eliminando e até reduzindo a quantidade de alimentos com sacarose entre elas". Segundo a odontopediatra, enquanto a quantidade anual aceitável de sacarose é de 10 a 15 kg/pessoa, o brasileiro consome, em média, 50 kg/pessoa/ano. "O papel do profissional de Odontologia na promoção de saúde bucal é buscar meios para a recuperação da saúde bucal, motivando as mudanças de hábito e advogando por políticas de saúde pública para um futuro melhor", defende a odontopediatra.

Fonte: Revista ABO


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